Tal fato levou-me à conclusão de que para a sociedade de modo geral isso parece algo muito longe de estar acontecendo! A maioria das pessoas acha que não existem excluídos no mundo ou, se existem, esse número não é tão grande assim. Para elas esse papo de desigualdade e exclusão social é só falácia, pois estão cegas e impregnadas pelo pensamento ideológico da classe dominante. Acha-se natural existirem pessoas passando fome, morando em barracos de lona. O pior é que atribui-se como causa deste fato, por exemplo, a falta de valores familiares ou de esforço e dedicação. Porém basta olharmos com mais atenção alguns números que aparecem divulgados, pela ONU - Organização das Nações Unidas, pela CPT - Comissão Pastoral da Terra, pelo IBGE - Instituto de Geografia e Estatística, pelo INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, pelo IAPAR - Instituto Agronômico do Paraná e outras tantas entidades governamentais ou não. Esses números retratam uma cruel realidade.
O Worldwatch Institute no relatório O Estado do Mundo em 2003, divulga que:
• Sete mil pessoas morrem por dia vítimas de malária, sendo este número superior ao de pessoas com AIDS que vêm a óbito;
• 5,5 mil crianças morrem por dia devido a más condições de sanitárias básico, falta de água potável e contaminação dos alimentos, ar e água;
• 1 bilhão de pessoas em todo o mundo buscam abrigo em assentamentos "informais", freqüentemente em locais extremamente precários - encostas íngremes ou várzeas, lixões ou a jusante de poluidores industriais vivendo não apenas sob constante ameaça de despejo, mas também dos riscos de desastres naturais e doenças devido à falta de água e saneamento;
• Cientistas consideram que o mundo se encontra em meio a maior onda de extinção de animais desde o desaparecimento dos dinossauros, 65 milhões de anos atrás.
Loureiro (2006, p. 41) comenta estes dados em seus estudos e ainda cita outras informações presentes no referido relatório, tais como: "as três pessoas mais ricas possuem patrimônio igual ao PIB dos 48 países mais pobres e aproximadamente trezentas maiores fortunas possuem em ativos o equivalente à renda de dois bilhões e setecentos milhões de pessoas".
Segundo a ONU [1] estima-se que 20% da população mundial se apropriam de 86% das riquezas do mundo. E ainda aproximadamente 75% do comercio mundial se realiza entre empresas multinacionais. Além disso, até 2001, as dez empresas mais importantes de cada setor no mundo controlavam 86% das comunicações, 70% da informática, 60% dos produtos veterinários, 35% dos remédios, 46 % do comercio de sementes e 90% do mercado dos agroquímicos.
O IBGE (2006) também não trás números muito animadores, segundo seus levantamentos:
• o Brasil tem 170 milhões de habitantes e destes 50 milhões de pessoas vivendo em condições de indigência, com renda inferior a oitenta reais por mês, ou seja, 29,26% de nossa população não consegue satisfazer suas necessidades diárias.
• 14 milhões de brasileiros vivem em domicílios caracterizados por um estado de insegurança alimentar grave, o que significa que convivem com a fome quase todos os dias, alguns dias, ou um ou dois dias por mês.
• 10% das pessoas (os mais ricos) ficam com quase 50% da renda, enquanto 50% das pessoas (os mais pobres) ficam com um pouco mais que 10% da renda;
• 1% das famílias mais ricas consome 15% da renda, mais de 85 milhões de pessoas (a metade mais pobre) consomem apenas 12%.
Sabe-se hoje que o Brasil é a nona economia mundial, porém possui a 4ª maior concentração de renda no planeta, só perdendo para Serra Leoa, (República Centro - africana e Suazilãndia). Essa situação se reflete no campo onde somos o segundo país em concentração de propriedade fundiária em todo o planeta.
Segundo o INCRA [2]:
• 1% dos estabelecimentos agrícolas controla 45% das terras, enquanto que 90% dos pequenos estabelecimentos possuem apenas 20% da área agricultável;
• 62% da área total dos imóveis rurais do país é improdutiva (na média nacional);
• 120 milhões de hectares são de terras boas para a agricultura e pecuária não produzem nada;
• 30 milhões de hectares pertencem a empresas estrangeiras;
• 32 mil latifundiários concentram 132 milhões de hectares;
• Apenas 30% dos imóveis cadastrados no INCRA são considerados produtivos;
• 250 milhões de áreas devolutas (áreas que perte&ncem ao Estado e foram apropriadas ilegalmente por grandes proprietários).
A situação do Paraná também é alarmante, segundo dados do IAPAR (2000) [1] nosso Estado é o sexto no ranking nacional de desenvolvimento, onde temos 72% dos municípios apresentando IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) inferior à média nacional. Temos aqui 9,5 milhões de habitantes dos quais cerca de 1 milhão de pessoas vivem abaixo da linha de pobreza, ou seja, ou pouco mais de 10% da população vive ou sobrevive com menos de 25% do salário mínimo, sendo que destes 35,11% vivem no campo.
Cabe-nos aqui então indagar: será que todas as pessoas do planeta possuem realmente qualidade de vida ou apenas sobrevivem da pior forma possível muitas vezes?
E na sua cidade, existem desigualdade e exclusão social?
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[1] Dados divulgados pela CPT - Comissão Pastoral da Terra durante a 22ª Romaria da Terra do Paraná em Tamarana, 20/08/2006.
[2] Dados divulgados no Jornal Mundo Jovem. Ano XLIV, n. 368, julho 2006. p. 13.
Referências
BOLDRINI, E. B. Créditos de Carbono. (A Ideologia da Educação Ambiental). In: Revista Geo Notas. v. 6, n. 3, Jul/Ago/Set 2002. Depto de Geografia - UEM, 2002. Disponível em:
CAPRA, F.. As conexões ocultas: ciência para uma vida sustentável. Marcelo Brandão Cipolla (trad.) São Paulo: Cultrix, 2005. 295p.
CPT - Comissão Pastoral da Terra. 22ª Romaria da Terra do Paraná em Tamarana, 20/08/2006. Brochura
Jornal Mundo Jovem. Terra para o alimento, não para o lucro. Entrevista Dom Thomás Balduíno, bispo de Goiás, um dos fundadores da Comissão Pastoral da Terra - CPT. Ano XLIV, n. 368, julho/ 2006. p. 13.
LOUREIRO, C.F.B. Trajetória e Fundamentos da educação Ambiental. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2006.
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