domingo, 1 de março de 2009

Educação Ambiental: uma discussão sobre a questão energética e as barragens.

As barragens e a questão energética no Brasil
( Gismeire Hamann Andrade)

Segundo Wikipédia,"uma barragem, açude ou represa, é uma barreira artificial, feita em cursos de água para a retenção de grandes quantidades de água". Ela pode ser de aterro ou de concreto ou betão. "Sua utilização é sobretudo para abastecer de água zonas residenciais, agrícolas, industriais, produção de energia elétrica (energia hidráulica), ou regularização de um caudal" (fluxo).
No Brasil a construção de barragens foi impulsionada a partir da metade do século XIX (CAMPOS, 2006). Existindo hoje em nosso país, aproximadamente 2 mil barragens, das quais 625 encontram-se em operação (MAB) . No entanto o Plano Decenal de Energia Elétrica 2006-2015 do Ministério de Minas e Energia (MME), prevê a entrada em operação de 83 novos empreen­dimentos hidrelétricos, sendo 31 até o fim de 2010. Seriam 494 novas barragens construídas até 2015 no país (CAMPOS, 2006).
As hidrelétricas em nosso país são responsáveis por cerca 90% da energia consumida, isso se deve à grande quantidade de rios existentes em nosso país, formando a maior rede de bacias hidrográficas do mundo! Como afirma Malvezzi (2005), o Brasil possui cerca de 13,8% das águas doces dos rios do planeta, além da grande abundância de águas subterrâneas" e somos o único país de dimensões continentais em que chove sobre todo território nacional". Ainda segundo o mesmo autor, “é devido a estes dados que somos considerados a maior potência mundial em volume de água doce do planeta" e viramos objeto de cobiça nacional e internacional originando o "hidronegócio", que assim como no agronegócio, são as multinacionais que acabam por movimentar e ganhar um imenso dinheiro.
A "geração" de energia por hidrelétricas é o principal ramo do hidronegócio, como destaca Malvezzi (2005) "a energia de origem hídrica que move nosso país é um mega ramo do hidronegócio para empreiteiras, corporações técnicas, indústria de turbinas, geradoras e distribuidoras de energia – essas últimas praticamente privatizadas" E por isso existe uma grande dificuldade de se implementar novas fontes de energia.
A construção de hidrelétricas é um processo complicado porque causa profundos problemas ambientais e sociais. Destes destacamos dentre eles podemos citar a inundação de áreas de plantio, de jazidas de minérios e de florestas, o alagamento de cidades, a extinção de espécies animais e vegetais, as mudanças no microclima da região, no regime de chuvas e na qualidade das águas, o assoriamento dos reservatórios, além da perda do patrimônio histórico e cultural da região alagada pela barragem.
Houve uma época, principalmente durante a ditadura militar, em que se priorizou a construção de grandes usinas hidrelétricas, como é o caso da Usina de Itaipu e outras pelo Brasil à fora. Em cerca de 40 anos foram "1 milhão de pessoas foram deslocadas compulsoriamente por grandes barragens.[...] Isso para não falar da ocupação violenta dos territórios de povos indígenas; da destruição acelerada de recursos ambientais; da transformação das empresas estatais em mecanismos de poder e corrupção, operando à margem de qualquer controle social". (VAINER E BERMANN, s.d.).
Malvezzi (2005) nos lembra do exemplo da barragem de Sobradinho, no médio São Francisco, relocando 72 mil pessoas e inundando quatro cidades. Foi a partir daí que os atingidos por barragens de outras regiões puderam organizar-se melhor para defender seus interesses, inclusive, inviabilizando a construção de outras barragens, principalmente na bacia do Rio Uruguai. Nascia aí então o Movimento do Atingidos por Barragens - MAB.
Gilberto Cervinski (engenheiro agrônomo que faz parte da direção nacional do MAB) foi entrevistado pelos jornalistas Mônica Pinto e Danielle Jordan do AmbienteBrasil em 18/09/2005. Na ocasião ele relatou que inicialmente o objetivo do MAB era tentar garantir boas indenizações, mas foram vendo que as empresas não aceitam. E hoje o objetivo do movimento é defender as famílias contra as agressões dos donos das barragens e também defender e mudar o modelo energético brasileiro.
Outro exemplo, aliás, mais próximo é o da construção da hidrelétrica de Itaipu. Dados da CPT informam que o lago se formou em apenas 14 dias (170 km de comprimento e largura média de 7 km, podendo chegar a 12 km). Aproximadamente 1.350 km2 de terras e desalajou mais de 50 mil pessoas, sendo 1.200 famílias somente das ilhas do Rio Paraná. Destas famílias ... foram reassentadas na Península do Rio Cavernoso no município de Candói-Pr.
Torna-se necessário repensar a construção de novas hidrelétricas para suprir a crescente demanda energética do país. Para tanto um caminho é o investimento em fontes de energia alternativas e outro é a redução do consumo. Sobre o assunto Vainer e Bermann explicam que
A economia seria infinitamente maior se, ao invés da simples pressão sobre o consumidor residencial, fossem revistos os acordos de fornecimento com indústrias eletrointensivas que se beneficiam de enormes subsídios. As indústrias de alumínio, por exemplo, exportam 70% da produção e recebem subsídios de 200 a 250 milhões de dólares ao ano para as fábricas do Pará e Maranhão. Trocado em miúdos, isto quer dizer que destruímos nossas florestas, inundamos terras férteis, expulsamos do campo populações ribeirinhas, eliminamos cultural e, mesmo, fisicamente, populações indígenas … para subsidiar o consumo de alumínio nos países dominantes — que, desde a crise do petróleo, deslocaram para os países periféricos os setores industriais que consomem grandes quantidades de energia.
Bermann (2002) mostra que apenas 22,6% de toda a energia elétrica gerada no Brasil é consumida pelas residências enquanto 32,4% é consumida pela indústria pesada. e ainda alerta para de que em muitos casos a população paga 10 vezes mais pela energia que consome do que a indústria.
Diante disso é fundamental refletirmos num outro aspecto: Quem está sendo mais beneficiado com todos estes investimentos em hidrelétricas? A quem interessa a construção de mais barragens? A energia produzida está a serviço do povo brasileiro ou das grandes empresas internacionais? Será que todos os brasileiros estão tendo acesso à energia elétrica em suas residências?
REFERÊNCIAS
BERMANN, Célio. Energia no Brasil: para quê? Para quem? Crise e alternativas para um país sustentável. São Paulo: Livraria da Física, FASE, 2002.
CAMPOS, André. Para MAB, barragens atingirão 100 mil nos próximos quatro anos. In. Repórter Brasil, 23/11/2006. Disponível em: http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id= 797. Acesso: 10/01/2008.
CPT- Comissão Pastoral da Terra. 18ª Romaria da Terra. A Benção da chuva: a origem da vida. Disponível em: http://www.cpt.org.br/?system=news&action=read&id=191&eid=140. Acesso: 10/01/2008.
MAB - Movimentos dos Atingidos por Barragens. Os Donos de Nossos Rios. Brasília/DF: MAB. Disponível em: http://www.mabnacional.org.br/textos/donos_rios.htm. Acesso: 10/01/2008.
_______ Dossiê: Ditadura contra as populações atingidas por barragens aumenta a pobreza do povo brasileiro. Brasília/DF: MAB. Disponível em: http://www.mabnacional.org.br/textos/dossie1.htm. Acesso em 10/01/2008.
MALVEZZI, Roberto. Hidronegócio. In: ComCiencia - Energia, ensino e alternativas. 10/02/2005 SBPC/Labjor Brasil. Disponível em: http://www.comciencia.br/reportagens/2005/02/15.shtml. Acesso: 10/01/2008.
VAINER, C. B. e BERMANN, C. Lições da crise energética. s.d. In: Site do Movimento dos Atingidos por barragens - MAB. Disponível em: http://www.mabnacional.org.br/textos/crise_energia.htm. Acesso; 10/01/2008.
FONTE: Texto publicado no CD-ROM Educação Ambiental no ensino de Ciências: uma abordagem Materialismo Histórico e Dialético. Material Didático elaborado durante o Programa de Desenvolvimento Educacionaldo Estado do Paraná - PDE/ 2007-2008.

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